03
de Setembro de 2013
Mais um dia neste diário trancado, não com simples chaves, mas com
sentimento, com amor e saudade. Aqui sentada te escrevo mais uma página, na
esperança que tu estejas a ler estas palavras sem jeito.
Vim aqui hoje não só para te
contar como tenho estado mas também para te contar uma história que me deixa
completamente apaixonada, sim já sei que quem contava as histórias eras tu, mas
não ralhes mais comigo, já não te ouço contar historias há tempo de mais, como
deves ter reparado também, cresci e já posso contar os minhas histórias,
contudo tenho saudades de ser a “tua pequenina”, a “tua menina” como me
chamavas, lembras-te?
Todas as noites sonho com
esta história, o que me faz querer ter e viver como as personagens desta
história. Tenho tanto para te contar. Já se passaram alguns dias desde que te
contei aquele meu problema, ainda estou a tentar não cometer o mesmo erro mas
tenho conseguido, contudo tenho enfrentado muitos obstáculos, um deles a saudade
que insiste em queimar-me e consumir-me por dentro. Mas voltando à real e pura
historia que te quero contar.
“Numa
pequena vila vivia uma jovem que todas as noites gostava de se sentar na sua
cadeira de baloiço ou então no banco de madeira que estava na varanda do seu
quarto. Em noites estreladas sentava-se na cadeira de baloiço no seu alpendre
virado para o jardim das traseiras. Sempre que se sentava lá nada acontecia,
mas quem sabe se isso não iria mudar.
Ela
considerava-se uma rapariga absolutamente normal, sem nada para alguém se
interessar, na escola passava despercebida, tinha uma ou duas amizades mas nada
de mais.
Numa dada
altura algo lhe fez mudar toda a sua vida. Havia uma festa da escola, perto de
uma pequena lagoa, ia lá estar toda a gente, contudo a jovem não queria ir, uma
amiga lá a convenceu a participar. Tudo se estava a divertir, ela depois de ser
posta de parte, desistiu de tentar agradara quem não lhe ligava, sentou-se
junto a uma árvore para não ser um peso para ninguém! Algum tempo depois houve
alguém que como por magia se juntou a ela, ele fora a primeira e única pessoa
que mostrara preocupação, que realmente se importava com o seu estado de
espírito.
Eles eram
tão diferentes. Ela era apenas e só mais uma pessoa no mundo. Ele pelo
contrário era o alvo mais cobiçado, tal como se vê naqueles filmes fúteis de
adolescentes que insistem em passar nas televisões. Ela simplesmente ficou
imóvel diante dele, quando este lhe perguntou se tudo estava bem, depois de um
silencio ela conseguiu afirmar que nada se passava, mas ao dizê-lo uma lágrima
escorreu-lhe pelo rosto. Não tentou esconder e surpreendentemente, ele
limpou-lhe aquele sinal de desabafo e abraçou-a, nisto o coração da frágil
jovem encheu-se de calor como há muito não sentia.
A noite
ia longa, mas ela não podia deixar de ir ao seu alpendre, pegou na manta que
deixara lá na noite anterior e recostou-se a mirar as estrelas, reparando que
havia uma que brilhava mais, então aí pensou que estava ali quem queria, que
era para aquela estrela que haveria de falar e que seria ouvida. Ela pensou:
“Será que finalmente és tu? Será que estás mesmo a ouvir-me?” então e porque
não falar com ela?! Já que se sentia tão sozinha porque não falar com ela. No
fim de tudo contado foi descansar um pouco, para conseguir assimilar aquele
dia.
Na manhã
seguinte acordou e tudo lhe parecia um sonho lindo e puro, quando se preparava
para sair e dar um passeio percebeu que talvez a noite passada nunca mais se
iria repetir, assim que saísse aquela porta, voltava a não ser ninguém.
Ao fim de
longos quilometro acompanhada apenas pela sua pequena invenção que lhe dava a musica
que compreendia todas as suas preocupações, viu alguém ao longe a olhar para
ela, ainda teve a tentação de aumentar a velocidade do seu passo, pois achava
que podia ser aquele rapaz que por breves instantes a fez senti viva novamente,
mas em seguida cai em si e pensa que seria impossível, isso nunca poderia
acontecer pois ele já a teria esquecido pensava ela enquanto se preparava para
abrandar o passo e virar costas. Nisto houve uma voz chamando o seu nome, lá ao
longe, então olhou para trás sem parar, mas ninguém lhe acenou por isso
continuou, tão desligada, tão isolada e aparentemente despreocupada. Sem se dar
conta alguém lhe toca no ombro, ela muito assustada vira-se pronta para bater
no medo, mas algo a faz recuar. Respira fundo e põe no seu rosto um ar de
espanto quando vê o rapaz da noite anterior.
Ela muito
envergonhada desfaz-se em mil e uma desculpas, mas o rapaz não precisava delas,
ele nem a estava a ouvir, apenas ficou ali, imóvel e calado, ela começava a
achar que era tudo brincadeira e começa a sua marcha, mas de repente sem lhe
dar tempo de desviar o olhar, ele puxa-a e abraça-se a ela. Nesse momento tudo
pára, ela fica sem reacção por breves segundos. Quando recupera o sentido
retribui o gesto.
Com
firmeza e carinho, ele pega na mão dela e incentiva a continuação da caminhada,
ela ainda não se sentia totalmente em sim, mas arriscou no silêncio. Poucos
passos depois ele o que tudo aquilo significou. Explica que tinha passado toda
a noite a fazer uma pesquisa para saber quem era aquela rapariga linda de
cabelo cor do ouro e com ondas esculpidas por anjos, e como que por magia
encontrara quem desejara. Aquele abraço tinha sido o que ficou por dar na
passada noite e o silencio, ai o silencio, esse foi pelo facto de ele se sentir
da mesma forma que ela.
Caminharam
juntos, sem rumo, sempre lado a lado de mãos entrelaçadas, contando as suas
histórias um ao outro, nela escorriam lágrimas de dor, mas ao mesmo tempo nunca
ninguém lhe tinha dito tais palavras, nem feito tal coisa, nele as lágrimas escorriam, mas manteve-se sempre forte e atento nela. Levou-a a casa e no fim
de tanto insistir ele entrou e acabou por almoçar com ela.
Nesse
dia, os dois jovens só se despediram quando o sol desenhava uma linda aurora,
pintava de laranja o lindo horizonte. Na mesma noite a jovem cumpriu o seu
ritual sentada na sua cadeira de baloiço, tapada com uma linda manta e, nas
suas mãos, segurava o seu aconchego interior. Desta vez a jovem escreveu, falou
com ela, a sua estrela guia, cantou e pela primeira vez desde a desgraça final,
ela sorriu…
Aquele
dia ficou lhe na mente, mas tem-se vindo a repetir todos os dias, a jovem
sente-se viva de novo e sente algo a crescer dentro dela, algo que nunca teria
experienciado. Mas um dia o jovem não apareceu para a as suas caminhadas
habituais, ela pela primeira vez sentiu falta dele, sentiu a saudade como dois
enamorados separados.
A lua já
tinha tocado la no alto, já tinha aparecido redonda e brilhante a iluminar o
céu escuro e estrelado, a jovem já estava preparada para ir para a sua cadeira
de baloiço, já tinha a manta, o chocolate quente, o caderno e principalmente a
vontade, vontade de rir, chorar, cantar, desabafar, mas acima de tudo, vontade
de falar com a sua estrela. Já sentada, começa a ouvir uns barulhos que vinham
do meio das árvores à sua frente, pareciam passos. Seria algum animal selvagem
ou perdido? Seria uma pessoa que caminhava sem norte? Ou uma outra coisa? Estas
perguntas pareciam choques que tinham como alvo o seu coração que acelerava mais
a cada passo.
Os passos
cada vez se aproximavam mais até que a jovem conseguiu identificar uma figura
masculina por entre os arbustos. Assustada, fecha os olhos para sentir o
perigo, nisto aquela figura murmura diante do seu rosto, ela percebe que afinal
a razão das suas incontroláveis saudades se encontrava ali, mesmo em frente a
ela. Ao abrir os seus olhos verdes brilhantes como dois rubis, viu o seu
príncipe loiro de olhos azuis cor de mar, de joelhos com uma rosa vermelha na
mão direita e de mão esquerda estendida para ela, pedindo-lhe permissão para
aquela dança, tal como num baile real.
A dança a
quase no fim, quando o jovem, com muito nervosismo, se declara perante a sua
princesa, isso para ela é tudo tão novo, não esperava tal gesto, nisto afastou-se,
mas o que sentiu naquele momento fora complementado com as palavras dele, e
quando ele lhe segura a mão, puxa-a e beija-a ao som daquela linda melodia
entoada pela floresta.
A partir
desse dia aqueles dois jovens ficaram unidos, não só pelo amor, mas por uma
profunda relação de amizade. Daquela noite para o futuro, a jovem voltou a
sentir-se amada, desejada e acariciada, contudo, não deixou de falar com a sua
estrela, e agora tinha muito mais para dizer, mas a partir de então passou a fazê-lo com mais uma pessoa, o motivo da sua alegria.”
Viste? Eu
disse-te que também sabia contar historias eu disse que ias gostar. Sabes o que
aconteceu aquela estrela? Todas as noites ficava mais brilhante por ter tanto
orgulho.
E tu? Ou
melhor, e vocês? Sim vocês, porque eu já te vi ai por trás e sei que também ouviste
esta história. O que achas? Já deixei de ser a tua pequenina? Ou ainda tenho
lugar no teu colinho, no meio dos teus braços? E tu? Estás a gostar de me
conhecer? Fiquei desiludida, mas no fundo tento entender. Agora vamos ao que
interessa, estão orgulhosos de mim? Estou a ser a menina bonita que sempre
queriam que eu fosse?
Vocês nem
imaginam a falta que fazem aqui, não só a mim, mas a todos. Nunca se esqueçam de
mim nem deles, porque nós nunca vos tiramos do coração.
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