sexta-feira, 4 de julho de 2014



03 de Setembro de 2013

   Mais um dia neste diário trancado, não com simples chaves, mas com sentimento, com amor e saudade. Aqui sentada te escrevo mais uma página, na esperança que tu estejas a ler estas palavras sem jeito.
   Vim aqui hoje não só para te contar como tenho estado mas também para te contar uma história que me deixa completamente apaixonada, sim já sei que quem contava as histórias eras tu, mas não ralhes mais comigo, já não te ouço contar historias há tempo de mais, como deves ter reparado também, cresci e já posso contar os minhas histórias, contudo tenho saudades de ser a “tua pequenina”, a “tua menina” como me chamavas, lembras-te?
   Todas as noites sonho com esta história, o que me faz querer ter e viver como as personagens desta história. Tenho tanto para te contar. Já se passaram alguns dias desde que te contei aquele meu problema, ainda estou a tentar não cometer o mesmo erro mas tenho conseguido, contudo tenho enfrentado muitos obstáculos, um deles a saudade que insiste em queimar-me e consumir-me por dentro. Mas voltando à real e pura historia que te quero contar.
   “Numa pequena vila vivia uma jovem que todas as noites gostava de se sentar na sua cadeira de baloiço ou então no banco de madeira que estava na varanda do seu quarto. Em noites estreladas sentava-se na cadeira de baloiço no seu alpendre virado para o jardim das traseiras. Sempre que se sentava lá nada acontecia, mas quem sabe se isso não iria mudar.
   Ela considerava-se uma rapariga absolutamente normal, sem nada para alguém se interessar, na escola passava despercebida, tinha uma ou duas amizades mas nada de mais.
   Numa dada altura algo lhe fez mudar toda a sua vida. Havia uma festa da escola, perto de uma pequena lagoa, ia lá estar toda a gente, contudo a jovem não queria ir, uma amiga lá a convenceu a participar. Tudo se estava a divertir, ela depois de ser posta de parte, desistiu de tentar agradara quem não lhe ligava, sentou-se junto a uma árvore para não ser um peso para ninguém! Algum tempo depois houve alguém que como por magia se juntou a ela, ele fora a primeira e única pessoa que mostrara preocupação, que realmente se importava com o seu estado de espírito.  
   Eles eram tão diferentes. Ela era apenas e só mais uma pessoa no mundo. Ele pelo contrário era o alvo mais cobiçado, tal como se vê naqueles filmes fúteis de adolescentes que insistem em passar nas televisões. Ela simplesmente ficou imóvel diante dele, quando este lhe perguntou se tudo estava bem, depois de um silencio ela conseguiu afirmar que nada se passava, mas ao dizê-lo uma lágrima escorreu-lhe pelo rosto. Não tentou esconder e surpreendentemente, ele limpou-lhe aquele sinal de desabafo e abraçou-a, nisto o coração da frágil jovem encheu-se de calor como há muito não sentia.
   A noite ia longa, mas ela não podia deixar de ir ao seu alpendre, pegou na manta que deixara lá na noite anterior e recostou-se a mirar as estrelas, reparando que havia uma que brilhava mais, então aí pensou que estava ali quem queria, que era para aquela estrela que haveria de falar e que seria ouvida. Ela pensou: “Será que finalmente és tu? Será que estás mesmo a ouvir-me?” então e porque não falar com ela?! Já que se sentia tão sozinha porque não falar com ela. No fim de tudo contado foi descansar um pouco, para conseguir assimilar aquele dia.
   Na manhã seguinte acordou e tudo lhe parecia um sonho lindo e puro, quando se preparava para sair e dar um passeio percebeu que talvez a noite passada nunca mais se iria repetir, assim que saísse aquela porta, voltava a não ser ninguém.
   Ao fim de longos quilometro acompanhada apenas pela sua pequena invenção que lhe dava a musica que compreendia todas as suas preocupações, viu alguém ao longe a olhar para ela, ainda teve a tentação de aumentar a velocidade do seu passo, pois achava que podia ser aquele rapaz que por breves instantes a fez senti viva novamente, mas em seguida cai em si e pensa que seria impossível, isso nunca poderia acontecer pois ele já a teria esquecido pensava ela enquanto se preparava para abrandar o passo e virar costas. Nisto houve uma voz chamando o seu nome, lá ao longe, então olhou para trás sem parar, mas ninguém lhe acenou por isso continuou, tão desligada, tão isolada e aparentemente despreocupada. Sem se dar conta alguém lhe toca no ombro, ela muito assustada vira-se pronta para bater no medo, mas algo a faz recuar. Respira fundo e põe no seu rosto um ar de espanto quando vê o rapaz da noite anterior.
   Ela muito envergonhada desfaz-se em mil e uma desculpas, mas o rapaz não precisava delas, ele nem a estava a ouvir, apenas ficou ali, imóvel e calado, ela começava a achar que era tudo brincadeira e começa a sua marcha, mas de repente sem lhe dar tempo de desviar o olhar, ele puxa-a e abraça-se a ela. Nesse momento tudo pára, ela fica sem reacção por breves segundos. Quando recupera o sentido retribui o gesto.
   Com firmeza e carinho, ele pega na mão dela e incentiva a continuação da caminhada, ela ainda não se sentia totalmente em sim, mas arriscou no silêncio. Poucos passos depois ele o que tudo aquilo significou. Explica que tinha passado toda a noite a fazer uma pesquisa para saber quem era aquela rapariga linda de cabelo cor do ouro e com ondas esculpidas por anjos, e como que por magia encontrara quem desejara. Aquele abraço tinha sido o que ficou por dar na passada noite e o silencio, ai o silencio, esse foi pelo facto de ele se sentir da mesma forma que ela.
   Caminharam juntos, sem rumo, sempre lado a lado de mãos entrelaçadas, contando as suas histórias um ao outro, nela escorriam lágrimas de dor, mas ao mesmo tempo nunca ninguém lhe tinha dito tais palavras, nem feito tal coisa, nele as lágrimas escorriam, mas manteve-se sempre forte e atento nela. Levou-a a casa e no fim de tanto insistir ele entrou e acabou por almoçar com ela.
   Nesse dia, os dois jovens só se despediram quando o sol desenhava uma linda aurora, pintava de laranja o lindo horizonte. Na mesma noite a jovem cumpriu o seu ritual sentada na sua cadeira de baloiço, tapada com uma linda manta e, nas suas mãos, segurava o seu aconchego interior. Desta vez a jovem escreveu, falou com ela, a sua estrela guia, cantou e pela primeira vez desde a desgraça final, ela sorriu…
   Aquele dia ficou lhe na mente, mas tem-se vindo a repetir todos os dias, a jovem sente-se viva de novo e sente algo a crescer dentro dela, algo que nunca teria experienciado. Mas um dia o jovem não apareceu para a as suas caminhadas habituais, ela pela primeira vez sentiu falta dele, sentiu a saudade como dois enamorados separados.
   A lua já tinha tocado la no alto, já tinha aparecido redonda e brilhante a iluminar o céu escuro e estrelado, a jovem já estava preparada para ir para a sua cadeira de baloiço, já tinha a manta, o chocolate quente, o caderno e principalmente a vontade, vontade de rir, chorar, cantar, desabafar, mas acima de tudo, vontade de falar com a sua estrela. Já sentada, começa a ouvir uns barulhos que vinham do meio das árvores à sua frente, pareciam passos. Seria algum animal selvagem ou perdido? Seria uma pessoa que caminhava sem norte? Ou uma outra coisa? Estas perguntas pareciam choques que tinham como alvo o seu coração que acelerava mais a cada passo.
   Os passos cada vez se aproximavam mais até que a jovem conseguiu identificar uma figura masculina por entre os arbustos. Assustada, fecha os olhos para sentir o perigo, nisto aquela figura murmura diante do seu rosto, ela percebe que afinal a razão das suas incontroláveis saudades se encontrava ali, mesmo em frente a ela. Ao abrir os seus olhos verdes brilhantes como dois rubis, viu o seu príncipe loiro de olhos azuis cor de mar, de joelhos com uma rosa vermelha na mão direita e de mão esquerda estendida para ela, pedindo-lhe permissão para aquela dança, tal como num baile real.
   A dança a quase no fim, quando o jovem, com muito nervosismo, se declara perante a sua princesa, isso para ela é tudo tão novo, não esperava tal gesto, nisto afastou-se, mas o que sentiu naquele momento fora complementado com as palavras dele, e quando ele lhe segura a mão, puxa-a e beija-a ao som daquela linda melodia entoada pela floresta.
   A partir desse dia aqueles dois jovens ficaram unidos, não só pelo amor, mas por uma profunda relação de amizade. Daquela noite para o futuro, a jovem voltou a sentir-se amada, desejada e acariciada, contudo, não deixou de falar com a sua estrela, e agora tinha muito mais para dizer, mas a partir de então passou a fazê-lo com mais uma pessoa, o motivo da sua alegria.”
   Viste? Eu disse-te que também sabia contar historias eu disse que ias gostar. Sabes o que aconteceu aquela estrela? Todas as noites ficava mais brilhante por ter tanto orgulho.
   E tu? Ou melhor, e vocês? Sim vocês, porque eu já te vi ai por trás e sei que também ouviste esta história. O que achas? Já deixei de ser a tua pequenina? Ou ainda tenho lugar no teu colinho, no meio dos teus braços? E tu? Estás a gostar de me conhecer? Fiquei desiludida, mas no fundo tento entender. Agora vamos ao que interessa, estão orgulhosos de mim? Estou a ser a menina bonita que sempre queriam que eu fosse?
   Vocês nem imaginam a falta que fazem aqui, não só a mim, mas a todos. Nunca se esqueçam de mim nem deles, porque nós nunca vos tiramos do coração.

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