quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

No fio da solidão





     Se calhar sou eu, se calhar é apenas só imaginação, ou se calhar nem é nada. Neste momento é tudo. É a tua ausência, a tua presença, o teu olhar, o teu sorriso, a tua falta, o teu cheiro, és tu. Sou eu. Não somos nada, mas já fomos tudo.

     Passado. Algo que tem toda a identidade, uma carga tão grande de história, emoção, a tua vida. Tu. Fomos tudo. Eramos tudo. Tínhamos tudo. No passado ficou tudo, no passado não há preocupações, é passado.

     Eramos tudo, agora o que ficou? Não temos nada, não somos nada. As horas de conversa, as horas de risos, choros, de gargalhadas, as horas de silêncios, de algazarra, as horas de barulho, de agitação, as horas de olhares ruidosos sem um único som dito. Onde está tudo isso? O que se passou ao dois num só? Onde estás tu? Eu preciso de ti aqui, aqui bem dentro de mim. Aí não te vejo, não te sinto. Onde está a cumplicidade? Onde está o passado que construímos para o presente?

     Não estás aqui, mas há alguém que te tem, não sou eu, não sou eu que te tenho, nunca me pertenceste, mas nunca nos separávamos, eramos um só corpo, uma só mente. Pertencias-me sem ser minha propriedade.

     As horas agora não passam, o tempo parou de vez, não consigo viver, não conseguir seguir sem te ter aqui bem perto. As horas agora são vazias, para mim não existe tempo, não vivo, sobrevivo apenas. Há alguém que te preenche o tempo, há outro alguém que te faz rir, há outro alguém que sorri, que te vê, que te ouve, que tem o teu carinho, que tem a tua confiança, que tem a tua amizade, o teu amor, o teu carinho. Há outro alguém que tem o que é meu, há outro alguém que não sou eu. Há outro alguém.

     A mim resta-me ficar aqui, muda, sozinha, uma simples assistente da tua felicidade. A mim resta-me ficar na solidão, resta-me ficar. Vou ficar com a memória do que eu fui, do que eu era, do que eu fui no passado. O passado levou-te com ele, e eu fiquei aqui ver-te seguir sem mim, fiquei abandonada desejando voltar para o que fui. Ter-te de novo era um sonho ao inico, agora não passa de memória, não passa de miragem. Mas lá no fundo acredito, lá no fundo existe uma esperança latente, por isso não te digo adeus, apenas digo...

          Até já!!



 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Vamos lá fazer contas de Natal.


    
 
 
     Diz-se que é Natal, diz-se que é tempo de paz, amor e luz, diz-se que é tempo de por o rancor de parte e perdoar. Diz-se tanta coisa… No Natal todos mudam, no Natal tudo fica diferente do resto do ano. As crianças brincam à lareira, perto da árvore de Natal, abanam as prendas para tentarem saber o que esconde o papel de embrulho. Mas no fim de contas, o que é o Natal?...

     A neve cai suave na rua, e como é bela, sem pedir, pinta a relva, o caminho, as casas e os telhados. Como é belo o verdadeiro Espírito de Natal! Lá fora o frio torna-se acolhedor, cá dentro a lareira convida à partilha, convida ao amor. Na cozinha vem um aroma quase celestial, três gerações juntas a criar um sabor tão especial, avó, filha e neta trocam sabores, juntam experiências e adicionam muito amor para a tão tradicional ceia familiar.

     A Lua vai bem alta, a neve teima em não parar de cair e as crianças, cada vez mais impacientes, escolhem e juntam-se à primeira e maior prenda que querem abrir, os adultos, fingindo não ligar, divertem-se com as reações dos pequenos. E a hora mais mágica chegou!

     Nas ruas, há luzes por toda a parte, tantas luzes que ofuscam todo o brilho do Natal, as andam loucas, num corrupio de loja em loja, as mãos já não aguentam com tantos sacos, há prendas por todo o lado, embrulhos em cada esquina. Não se cheira a Natal na rua, apenas fumo de carros, metros e sabe-se lá mais o quê. Em casa, as famílias mal se olham, as crianças não largam os videojogos, as tecnologias todas, a ceia, que fora encomendada há dias atrás, é aquecida e servida, todos comem e nem são partilhadas memórias. A hora chegou, abrem-se as prendas que são previamente escolhidas e compara-se qual a prenda mais cara.

     Nem são todos iguais, mas o Espírito de Natal devia ser o mesmo. Sem-abrigos juntam-se debaixo da ponte e partilham, partilham um simples pedaço de pão, que é tudo o que lhes resta, quem o teu. Por não terem casa, também não têm Natal?! Por não haver dinheiro ou um monte de prendas não é considerado Natal?! O que é mais importante?! Prendas, bens materiais e dinheiro? Ou comunhão, Partilha e o único e verdadeiro Espírito de Natal?

     Mas e no fim de contas, o que é o Natal?