"A concha mais linda da praia vira se para a onda do mar e pergunta:

-Porque és tão dura? Porque és tão cruel a bater na areia da praia?

-Eu sou o mar, todos gostam de ouvir o meu cantar, todos ficam mais calmos ao ouvir-me chegar à praia. Eu sou a força que nenhum homem consegue dominar, sou comandado pela lua e guiado pelo vento. Eu trago-te a todas as praias, trago-te sempre comigo, deixo que todas as crianças fiquem felizes por te apanhar à beira mar. Não sou cruel, apenas sou eu.

-Mas onda, porque te revoltas? Porque ficas tão agitado?

-Querida conchinha eu não quero ser assim, mas todas as coisas más trazem coisas maravilhosas depois, eu sei que custa mas para se triunfar tem que se lutar sempre, nada nos é dado."

Que toda a tristeza vire sorrisos e alegria, que todo o mar revolto tragas as mais lindas conchas.

 

O som do mar, a onda a beijar os pés no areal, as conchas a salpicar de brilho a fina areia, a calma da praia. Caminhar sobre o manto doirado e quente, sentir a brisa na cara, a maresia a molhar o meu rosto, desligar do mundo, ser criança novamente, ser a delicada e inocente estrela do mar que deu à costa porque queria sentir o sol quente. Quero deixar me comandar pela lua e ser guiada pelo vento, não quero sentir a violência da vida e o peso da solidão, quero ser livre sem sofrer.

O mar, eu quero ser como o mar. A calma, o barulhar, as ondas.

Oh mar salgado traz-me de volta tudo aquilo que fui e já não sou, tudo aquilo que tinha e pelas mãos se esfumou.

Oh mar.... 

O caminho cada vez é mais apertado, cada vez mais o ar é pesado, denso, não deixa respirar, a vontade de caminhar perde se a cada passada, o silêncio cada vez é mais ensurdecedor... 

A tua ausência não é mais uma constante dolorosa, é a dor constantemente presente e sentida que me teima em mostrar que viver sem ti é a realidade mais profunda, mais dolorosa, mais constante... 

O vazio é agora a única presença, a única certeza, a lembrança permanente que nunca mais existirá o conforto que só tu és, só tu tens, só tu me dás. O vazio insiste em mim e não me abandona mais. 

Desistir parece fácil, parece a única saída mas nem assim te terei, nem assim... 

Sei o que não queres, sei que algum sentido terá, mas a minha cegueira não permite entender, não me deixa aceitar... 

E agora...? E agora...? 

A dor da perda é maior que nós

Deixa um vazio sem medida

Causa uma revolta atroz 

E um sentimento de solidão esquecida 

O mundo lá fora deixa de ter cor, 

A vida perde a magia numa rajada de vento 

O sorriso não tem mais o mesmo sabor 

E a escuridão tem lugar no pensamento 

Nada tem sentido numa partida

Nunca mais se espera uma chegada 

A alegria deixa de ter lugar e é esquecida. 

O Inverno chega sem a primavera ter entrada. 

No céu, o sol perde o brilho e o calor,

A noite a lua tem o olhar pálido e sem amor 

Em todas as manhãs os pássaros silenciam

O que na alma não deixa de causar dor. 

O vazio de uma partida não acalma 

A revolta vivida não pára de arder 

O silêncio da escuridão invade a alma 

E a dor cortante só consegue enfraquecer.