terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Natureza bela, o que és tu?

   Hoje dei por mim a pensar na beleza que existe do lado de lá das quatro paredes de casa. Observei a calma do desabrochar das flores, vi o sol nascer todas as manhãs, ouvi o piar dos pássaros no beiral da minha janela, registei cada metamorfose das pequenas lagartas, senti o cair das folhas em todos o Outonos e arrepiei-me com o suave sopro do vento.
   Cheguei à conclusão que nem sempre damos conta de tão pura realidade, corremos para nunca chegar tarde, vivemos numa vida que não pode fazer pausas para abrandar e ver simplesmente a paisagem.
   Nesta vida nada é seguro, tudo nos pode fugir numa simples rajada de vento. Lembro-me daquele conto que me contavam todas as noites, fazia-me sonhar e voar até ao mundo da fantasia, ainda hoje sei cada palavra de cor, como se o estivesse a ouvir mesmo agora.
  Falavam de uma sereia que todas as manhãs vinha à beira mar simplesmente olhar para o horizonte, fazia-lo todos os nasceres do sol, até que um dia, quando estava sentada a cantar para as ondas, recostou-se numa pedra, almofadada pelos limos trazidos pelas águas, e aí adormeceu. Um bonito rapaz passeava pela praia calmamente, olhava para o mar, lembrava-se de tudo aquilo que ele lhe tirou, derramava algumas lágrimas enquanto se recordava de tudo… Perto das rochas viu tal ser tão belo, mas tão diferente que o fascinava, aproximou-se dela, viu que mesmo tão desigual era mais bela que todas da aldeia. Sentou-se ao lado dela e apenas observou em silêncio até ela despertar.
   O Sol irradiava na cara suave da sereia, aos poucos voltaria à realidade, a primeira coisa que viu foram aqueles apaixonantes olhos azuis, a olhar para os verdes dela, sobressaltou-se embora não tivesse tido medo, ele apenas conseguiu interroga-la: “Estás bem? Encontrei-te aqui sozinha e quis saber o que tinha acontecido!” Ela simplesmente lhe sorriu, foi o suficiente para ele ficar preso àquele sorriso, mas ela sabia que não poderia dura para sempre, pois ela tinha barbatanas e ele medo do mar, não que fosse medo, mas era revoltado.
   Todas as manhas, a partir daquele dia, se encontravam naquele mesmo local. A sereia cantava para ele e este contava-lhe todas as histórias que conhecia, tanto do mundo real como todos os mistérios que cada onda trazia. O pai da sereia sabia deste amor e sem que a filha soubesse fez com que tudo o que ela mais queria se tornasse real… Ainda dizem que todos os dias, naquele mesmo local os amantes se encontram como símbolo deste maravilhoso milagre: o puro amor.
   Hoje esta história faz-me lembrar que damos importância a coisas que não valem a pena, porquê seguir aquele caminho e não nos movermos com a paisagem? Com subidas e descidas, rectas e caminhos sinuosos, passagens livres e obstáculos?

Porque estranho?




     E quando aquilo que queremos não está do nosso lado? Não está a nosso favor ou simplesmente não está? Custa, faz doer, magoa tudo o que temos em nós não é? Mas a vida é mesmo assim, a vida não dá tréguas, não existe um botão para clicar para meter em pausa como nos jogos de vídeo,parar, pensar e depois continuar a viver.
   Todos os anos vão e vêm andorinhas que procuram o calor, quando uma criança apanha uma pequena andorinha, trata dela, dá-lhe amor. Todos acham aquele acto ridículo e sem qualquer tipo de sentido visto que é uma pessoa e um animal, mas analisem como é com a vida.
   Este exemplo acontece durante toda a nossa vida, aparecem pessoas, marcam e quando querem, ou dá jeito, vão-se embora, abandonam-nos. E porque é que ninguém acha isso estranho? Porque é que ninguém julga, critica ou aponta o dedo? Ambas são iguais, só porque a primeira é com um animal deixa de ser normal? Mas afinal não somos todos animais?
   Muito fácil é apontar o dedo, criticar,  mas quando olhamos para nós mesmos não queremos ver os defeitos, então apontamos tudo o que vemos em nós, culpando todos os outros. Como é tão fácil isto.
   Para mim, é muito mais grave e muito mais estranho quando duas pessoas criam laços, amizades e relações e a dada altura desaparecem das vidas das pessoas, tal como  uma andorinha foge do frio. Se sabe que vai embora, então porque é que vem, marca e abandona? Todos temos cabeça para pensar, para saber quando se quer, quando é verdadeiro. Sempre que queremos mesmo ultrapassa.se, luta-se para te e não deixar, não abandonar.
   Mas como a vida não é um conto de fadas, estas coisas acontecem e eu arrisco a dizer que acontece quase todos os dias, por isso vamos ter a capacidade de erguer a cabeça e abandonar a tristeza e seguir em frente.