quinta-feira, 27 de junho de 2013



10 de Abril de 2013


    Como é que isto é possível? Como pode estar isto a acontecer? Tudo isto num só dia, tantos acontecimentos. Hoje já não consigo sentir mais nada, sinto-me apática, descobri tantas coisas hoje meu Deus!
   Porque é que fizeste aquilo? Tinhas dois filhos pequenos, tinhas um marido para te apoiar, porquê? Porquê? Mesmo que aquilo que se dizia fosse verdade porque meteste termo à vida daquela forma? Alguma vez pensaste na revolta que todos iriam sentir com essa tua atitude, e eu? Alguma vez pensaste em como me iria sentir sem conhecer uma avó? Alguma vez pensaste em mim?
   Sempre me disseram que eras linda, alta, a melhor pessoa que existia, que tinhas um grande coração, mas terias morrido nova deixando um filho de apenas cinco aninhos e um outro um pouco mais velho, mas eram tão novos, tão pequenos. Nunca soube o que se tinha passado, sempre achei que fosse algo natural, alguma doença, algo menos aquilo. Estive muitos anos com esta ideia, mas sempre que o assunto era abordado todos tentavam fugir ao tema, faziam sinais entre si porque eu estava presente, até as pessoas de fora da família sabiam o que se passava menos eu, a partir daí comecei a desconfiar, mas sempre sem querer acreditar nessa hipótese.
   Naquela tarde tudo me caiu aos pés quando, entre dentes, disseram aquilo mais temia ouvir. Na minha cabeça choveram perguntas, dúvidas, revolta, tudo, mas nenhuma resposta, nada de compreensão.
   Já se passaram uns dias, mas hoje, sinto uma grande revolta, eu via em ti um modelo, não me perguntem o porque, só sei que para mim eras uma heroína, A minha avó, o meu modelo, a minha estrelinha lá em cima. Falavam no teu nome e desejava conhecer-te, saber como era o meu ídolo, poder viver com o meu modelo, saber se eu era realmente igual a ti, se realmente tínhamos tanto em comum. Mas agora estou de certo modo desiludida, o modelo que tinha para mim não quis mais viver neste mundo, não quis lutar mas porquê? Eu quero saber porque, será que nunca pensaste nos teus filhos? Nunca pensaste que irias ter netos? Fizeste aquilo porquê? Foi coragem? Cobardia? O quê? Porquê?
   Vim daquele sítio e vi algo parecido com aquilo que fizeste, algo parecido com aquela loucura. Só me fez lembrar a minha querida avó. E agora como devo pensar?
   A vida foi tão injusta, a vida rouba coisas que ainda não deram nada, leva de nós pessoas que deviam ficar e não deveriam partir nunca mais, porquê? As coisas nem sempre são naturais, todos nós devíamos partir por doença, por velhice, não é justo, não é natural um filho partir antes de um pai, não é justo partir um pai ou uma mãe com um filho ainda por criar, não é justo, não faz sentido, deixa-nos tão revoltados, ficamos tão tristes, tão magoados, mas o que nos resta fazer é “aceitar” é por de parte toda a revolta que temos cá dentro, já nada faz sentido, já nada parece ser o mais acertado.
   Só quero chorar, só me apetece correr e desaparecer para não sentir mais esta dor, este aperto, esta mágoa e desilusão. Só te quero aqui para me apoiares, só quero um beijo teu que diga que me estás a proteger, um olhar que diga que serei a tua pequenina e que nunca me vais deixar. Diz que me amas e que me vais amar sempre, diz que tens orgulho em mim.
   Não me deixes mais.

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